Em
entrevista concedida à HSM Management, Vicente Falconi afirmou que, na sua
idade, a maior satisfação que pode ter é a consciência de estar deixando algo
para quem vem depois. Na visão de Jorge Gerdau Johannpeter, o consultor tem
realmente motivos para se sentir realizado: “Os conceitos de gestão
introduzidos pelo professor Falconi são fundamentais para o aprimoramento da
eficiência de empresas e do setor público brasileiro”. Ao orientar a busca por mais
eficiência, Falconi, professor emérito da Universidade de Minas Gerais, não
perde de vista o conceito de método, palavra que, em grego, reúne os termos
“meta”, o resultado almejado, e “hodós”, o caminho para atingi-lo. “Você
gerencia para conseguir resultados e, sabendo o caminho, será uma gestão muito
melhor. O problema é que as pessoas usam as ferramentas de gestão sem usar um
método e aí a coisa se atrapalha. Esse é o segredo da história”, ensina.
Os conceitos de método e
liderança propagados por Falconi são adotados por empresas como Ambev,
Petrobras, Arcelor Mittal, Usiminas e Vale, entre outras. Ele recorda que René
Descartes, no século 17, escreveu o livro O discurso do método, por meio do qual
se aprende que o método é único: é a busca e o conhecimento da verdade. Falconi
recomenda essa leitura a todos os gestores.
Segundo ele, no mundo dos
negócios as verdades são mostradas na análise dos dados e fatos, mas as
empresas, na grande maioria, não trabalham com elas. Por isso, tomam decisões
que custam milhões com base em opiniões. Descartes costumava dizer que método
parecia ser o bem mais bem distribuído do mundo, porque ninguém acreditava
precisar mais do que já tinha. “Hoje isso continua igual: todo mundo acha que
tem método.” Sem método, fazer acontecer uma
formulação estratégica é quase impossível. Essa é uma das perspectivas que o
consultor adotará durante o Fórum HSM Estratégia 2012, que acontecerá em São Paulo nos
dias 22 e 23 de maio.
Aplicando o método
O método é anterior à meta, ou
seja, antes de se ter uma meta, é preciso ter um método que seja aplicado para
defini-la. Trata-se de levantamento de fatos e dados, cruzamentos, análise e
discussões. De acordo com Falconi, a maioria das empresas não passa por esse
processo, porque as pessoas sentem preguiça ou são arrogantes. Confiam,
portanto, em suas opiniões. O especialista ainda comenta
que é muito comum que uma meta seja colocada e as pessoas tenham a sensação,
logo no ato de colocá-la, de que ela já foi atingida – impressão desfeita no
fim do ano, quando o resultado fica aquém do esperado. Por esse motivo, é
preciso contar com um plano de ação.
No entanto, surge mais um
problema: “O executivo propõe um plano de ação e acha que o simples fato de ele
existir já garante tudo; ele vai descansar, achando que os outros vão executar
o plano. Esse gestor se esquece de que tem de ficar em cima das pessoas,
acompanhando ação por ação, para que possa haver segurança”. Implantado o plano
de ação, há que se conferir se todas as ações foram implementadas mesmo e, mais
tarde, se o resultado projetado foi alcançado.
Uma vez que, no melhor cenário,
a meta tenha sido atingida, é preciso partir para a padronização do que se
conquistou. Abrange treinar à exaustão as pessoas no novo conhecimento
adquirido e fazer o devido registro. “Posso afirmar que quase ninguém faz isso
para valer, no Brasil e no exterior”, declara o professor.
No cenário ruim, a meta não é
alcançada. Então, é preciso tomar ações corretivas: rever toda a sequência do
método para descobrir o que deu errado, analisar tudo novamente. Segundo
Falconi, método é sinônimo de garra: “a garra de rodar e rodar até atingir o
resultado”. É vencer nossa tendência natural à procrastinação.
Questão de consciência e treino
Não ter método custa mais do
que ter. As informações estão todas disponíveis em sistemas como o ERP, mas as
pessoas não se prepararam para interpretar e analisar as informações, nem
sequer fazem login nos terminais. “É como se tivessem uma mina de ouro e não
soubessem extrai-lo”. Se o entrave é o tempo, existem softwares sofisticados
que fazem o trabalho de análise rapidamente e indicam que ferramenta usar.
Se os líderes da empresa têm
essa consciência, podem levar as pessoas a exercitarem a análise. Foi o que fez
Carlos Brito quando presidente da Ambev: quando alguém chegava a ele com um
plano de ação, pedia que lhe mostrasse a correspondente análise. Se ela não
existisse, o CEO dizia: “Não acredito nas ações que você propõe”. Como o tempo,
todos se acostumaram a fazer a análise.
Para Falconi, não são os
líderes que garantem a continuidade do método, porque ele tem de fazer parte da
cultura da empresa. Deve ser normal, em qualquer nível hierárquico, que um bom
chefe exija que um plano de ação se baseie em análise, e os colaboradores devem
achar que é com base em análise que as coisas caminham melhor. Ainda assim, é
bom lembrar que não é possível dizer que uma empresa tenha aprendido o método
definitivamente. Há setores da empresa melhores do que outros, pessoas mais
rápidas que outras, rotatividade de pessoal etc.
A intuição não fica de fora da
orientação de Falconi. Em sua visão, ela faz parte do método, mas não o
substitui. Ela entra na primeira etapa, na análise, quando se diz: “Estou
achando que é por aqui”. O passo seguinte é levantar as informações para testar
e comprovar tal intuição. “Você pode ter uma ótima intuição com base em sua
experiência e deve aproveitá-la. O que não pode é sair da intuição e ir
diretamente para o plano de ação; aí é irresponsabilidade”, pondera.
Fonte: HSM – 03/05/2012
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