quarta-feira, 30 de maio de 2012

Método para extrair ouro



Em entrevista concedida à HSM Management, Vicente Falconi afirmou que, na sua idade, a maior satisfação que pode ter é a consciência de estar deixando algo para quem vem depois. Na visão de Jorge Gerdau Johannpeter, o consultor tem realmente motivos para se sentir realizado: “Os conceitos de gestão introduzidos pelo professor Falconi são fundamentais para o aprimoramento da eficiência de empresas e do setor público brasileiro”. Ao orientar a busca por mais eficiência, Falconi, professor emérito da Universidade de Minas Gerais, não perde de vista o conceito de método, palavra que, em grego, reúne os termos “meta”, o resultado almejado, e “hodós”, o caminho para atingi-lo. “Você gerencia para conseguir resultados e, sabendo o caminho, será uma gestão muito melhor. O problema é que as pessoas usam as ferramentas de gestão sem usar um método e aí a coisa se atrapalha. Esse é o segredo da história”, ensina.


Os conceitos de método e liderança propagados por Falconi são adotados por empresas como Ambev, Petrobras, Arcelor Mittal, Usiminas e Vale, entre outras. Ele recorda que René Descartes, no século 17, escreveu o livro O discurso do método, por meio do qual se aprende que o método é único: é a busca e o conhecimento da verdade. Falconi recomenda essa leitura a todos os gestores.
Segundo ele, no mundo dos negócios as verdades são mostradas na análise dos dados e fatos, mas as empresas, na grande maioria, não trabalham com elas. Por isso, tomam decisões que custam milhões com base em opiniões. Descartes costumava dizer que método parecia ser o bem mais bem distribuído do mundo, porque ninguém acreditava precisar mais do que já tinha. “Hoje isso continua igual: todo mundo acha que tem método.” Sem método, fazer acontecer uma formulação estratégica é quase impossível. Essa é uma das perspectivas que o consultor adotará durante o Fórum HSM Estratégia 2012, que acontecerá em São Paulo nos dias 22 e 23 de maio.

Aplicando o método
O método é anterior à meta, ou seja, antes de se ter uma meta, é preciso ter um método que seja aplicado para defini-la. Trata-se de levantamento de fatos e dados, cruzamentos, análise e discussões. De acordo com Falconi, a maioria das empresas não passa por esse processo, porque as pessoas sentem preguiça ou são arrogantes. Confiam, portanto, em suas opiniões. O especialista ainda comenta que é muito comum que uma meta seja colocada e as pessoas tenham a sensação, logo no ato de colocá-la, de que ela já foi atingida – impressão desfeita no fim do ano, quando o resultado fica aquém do esperado. Por esse motivo, é preciso contar com um plano de ação.
No entanto, surge mais um problema: “O executivo propõe um plano de ação e acha que o simples fato de ele existir já garante tudo; ele vai descansar, achando que os outros vão executar o plano. Esse gestor se esquece de que tem de ficar em cima das pessoas, acompanhando ação por ação, para que possa haver segurança”. Implantado o plano de ação, há que se conferir se todas as ações foram implementadas mesmo e, mais tarde, se o resultado projetado foi alcançado.
Uma vez que, no melhor cenário, a meta tenha sido atingida, é preciso partir para a padronização do que se conquistou. Abrange treinar à exaustão as pessoas no novo conhecimento adquirido e fazer o devido registro. “Posso afirmar que quase ninguém faz isso para valer, no Brasil e no exterior”, declara o professor.
No cenário ruim, a meta não é alcançada. Então, é preciso tomar ações corretivas: rever toda a sequência do método para descobrir o que deu errado, analisar tudo novamente. Segundo Falconi, método é sinônimo de garra: “a garra de rodar e rodar até atingir o resultado”. É vencer nossa tendência natural à procrastinação.

Questão de consciência e treino
Não ter método custa mais do que ter. As informações estão todas disponíveis em sistemas como o ERP, mas as pessoas não se prepararam para interpretar e analisar as informações, nem sequer fazem login nos terminais. “É como se tivessem uma mina de ouro e não soubessem extrai-lo”. Se o entrave é o tempo, existem softwares sofisticados que fazem o trabalho de análise rapidamente e indicam que ferramenta usar.
Se os líderes da empresa têm essa consciência, podem levar as pessoas a exercitarem a análise. Foi o que fez Carlos Brito quando presidente da Ambev: quando alguém chegava a ele com um plano de ação, pedia que lhe mostrasse a correspondente análise. Se ela não existisse, o CEO dizia: “Não acredito nas ações que você propõe”. Como o tempo, todos se acostumaram a fazer a análise.
Para Falconi, não são os líderes que garantem a continuidade do método, porque ele tem de fazer parte da cultura da empresa. Deve ser normal, em qualquer nível hierárquico, que um bom chefe exija que um plano de ação se baseie em análise, e os colaboradores devem achar que é com base em análise que as coisas caminham melhor. Ainda assim, é bom lembrar que não é possível dizer que uma empresa tenha aprendido o método definitivamente. Há setores da empresa melhores do que outros, pessoas mais rápidas que outras, rotatividade de pessoal etc.
A intuição não fica de fora da orientação de Falconi. Em sua visão, ela faz parte do método, mas não o substitui. Ela entra na primeira etapa, na análise, quando se diz: “Estou achando que é por aqui”. O passo seguinte é levantar as informações para testar e comprovar tal intuição. “Você pode ter uma ótima intuição com base em sua experiência e deve aproveitá-la. O que não pode é sair da intuição e ir diretamente para o plano de ação; aí é irresponsabilidade”, pondera.

Fonte: HSM – 03/05/2012

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